sábado, 25 de outubro de 2014

A verdade sobre o Reteté!
 
 
 
 
Na verdade quando se fala nesse tipo de "mistério" (como os adeptos costumam apelidar) o que em 99% das vezes está ocorrendo (no meu entendimento) é apenas um extravasamento de emoções. Alguns batem palmas sem parar, outros rolam no chão, outros pulam, outros se contorcem, outros se derramam em lágrimas... Até aí, nada de espiritual, de divino ou de satânico. É apenas um extravasamento de emoções, assim como acontece na maioria das religiões. Já notou a semelhança entre algumas "manifestações" evangélicas e manifestações do candomblé? Significa que nos dois casos é Deus agindo? Não! Significa que nos dois casos são as "entidades africanas" em ação? Não! Cada uma tem suas motivações e, como em algum momento isso entra na subjetividade de cada um, interferindo nas emoções, acaba extravasando, sendo que cada um reflete de uma forma (de acordo com seus costumes, suas preferências, seu condicionamento, sua personalidade...).

Ainda tem dúvidas que isso tudo é apenas manifestação de emoções? Repare que até em eventos não religiosos, como em partidas de futebol, quando uma pessoa passa no vestibular, quando ganha na loteria, por exemplo, isso acontece. Elas gritam, pulam, giram, dançam, choram. Essa euforia é natural da nossa humanidade, sendo que algumas pessoas são mais comedidas do que outras. 

Se não está satisfeito, vai mais uma evidência: Já percebeu que 95% das vezes que isso ocorre é em um momento específico, em que uma pessoa fica falando em alta intensidade no microfone, enquanto uma música agitada ao fundo (em alto volume e com ritmos mais intensos) é tocada? Já viu uma manifestação assim ao som de uma música bem calminha, serena e relaxante? Não, né? Nem eu. Repare ainda que outros momentos que isso acontece é quando o pregador fala rápido e forte, dizendo algo progressivamente mais "emocionante", sendo que vai subindo a entonação de voz, a velocidade da fala até que chega ao clímax e os ouvintes "vão ao delírio". Já viu essa manifestação em uma calma aula sobre as escrituras, por exemplo? Eu não... O padrão é sempre o mesmo e isso tem explicação. Nosso cérebro é influenciado por esses estímulos auditivos, então quando se concilia um ritmo adequado de fala ou de música, nossa emoção é tocada. Não é a toa que existe terapia por musica (musicoterapia). E mais: lembra que o Espírito Santo HABITA em nós? (I Coríntios 6:19) Se ele está 24 horas por dia em nosso ser, será que é Ele realmente se manifestando em alguns momentos, como esses, ou são nossas emoções sendo tocadas? Não estou ainda dizendo se isso é bom ou ruim. Apenas estou constatando algo real e facilmente explicável.

O problema não é a euforia em si. O problema surge quando ela é colocada como medidor da ação de Deus. Quem não age dessa forma "compulsiva" acaba sendo taxado de "frio" e de "carnal". Uma espiritualidade baseada em emoções é algo não apenas superficial, mas absurdo e perigoso. Hoje podemos estar nos sentindo bem, amanhã não. Quer dizer que no dia em que não "sinto" algo sobrenatural é porque estou mais longe de Deus? Desde quando eu sou o "termômetro" para avaliar se sou, como dizem, frio ou quente? Quem disse que eu sou o foco ou o parâmetro para avaliar a ação divina? Não, meu amigo! Se você pensa assim, está equivocado. 

Devemos viver pela fé e não, pela emoção. É ótimo sentir-se feliz e extravasar de alguma forma? Claro! Porém isso é questão humana e não divina. E se é uma questão meramente nossa, temos que ter prudência para não causar escândalos. Se estamos em nosso quarto, com a porta e janela fechadas, ótimo. Podemos soltar nossas emoções como desejamos. Porém se estamos em um ajuntamento público, devemos ter em mente que ali há pessoas de todos os tipos. Quantas vezes vemos vídeos e fotos desses momentos na internet, como alvo de piadas. Será que a Palavra de Deus nos ensina a agir dessa forma? Como desejaremos "evangelizar" alguém se estamos espantando as pessoas? Quem desejará estar em um meio em que a todo o momento as pessoas agem de forma irracional, como "loucas"? (Paulo alerta sobre isso em I Coríntios 14). Como diremos que "equilíbrio e domínio próprio" são frutos do Espírito se não os produzimos?
Calma, irmãozinho e irmãzinha. Não estou denegrindo ninguém, nem menosprezando, apenas estou opinando com base em algo que é bem óbvio. Não tenho aversão ao movimento pentecostal, mas você tem que entender que ele é um movimento recente. Então não queira condicionar a ação de Deus a esse tipo de manifestação. Quer dizer que em todos os séculos anteriores, antes do pentecostalismo, o Espírito Santo não agia? Por favor,né? Sejamos coerentes...
O Espírito Santo trabalha na alma da pessoa, sem que isso necessariamente tenha uma repercussão no corpo (não é o seu "sentir" que define se o Espírito Santo está agindo, afinal, como dizia o profeta: "enganoso é o nosso coração" - Jeremias 17:9). Nem toda ação do Espírito é acompanhada de sentimentos ou emoções, bem como nem toda emoção é sinal de ação do Espírito Santo. Entende? Pior é que a todo o momento recebo relatos de pessoas angustiadas por acharem que Deus está descontente com elas, já que elas "não sentem a presença de Deus" quando oram, quando se reúnem com os irmãos... 

Não entendem que sentindo ou não, Deus está conosco. Essa é a nossa fé. Nossas emoções variam como o clima, mas quando paramos de olhar para nós e olhamos apenas para Cristo (como sempre deveria ser) essa nossa ingênua prepotência de achar que somos o a referência, para. Se eu sinto Deus, significa que estou com minhas emoções mais afloradas e Deus realmente está comigo; se não sinto Deus, significa que minhas emoções estão por algum motivo, mais "camufladas", mas Deus continua comigo. Se não houver essa consciência, é sinal que vivo uma espiritualidade rasa e sem nenhuma relação com a fé.
Agora uma coisa séria e que muitos ficarão revoltados (mas direi, pois não tenho dúvidas de que seja real) é a seguinte: já percebeu que quanto mais "legalista" e repressor (principalmente na questão dos "usos e costumes") é o grupo, mais esses eventos acontecem? Há vários fatores envolvidos (desde a questão social, educacional e cultural), porém uma chama mais a atenção, que é o extravasamento como "válvula de escape". 

Imagine uma panela de pressão. Conforme a pressão aumenta na panela, ela precisa ser liberada pelas válvulas de segurança, caso contrário estouram. Agora imagine que cada pessoa seja uma dessas panelas. Quando alguém está em um ambiente não repressivo, em que tem liberdade para viver (claro que com responsabilidade), é como uma panela em bom funcionamento, que tem como extravasar suas emoções (a pressão da panela). Agora quando alguém vive em um grupo desses em que há um controle total da vida da pessoa (desde quanto recebe de salário até as atividades que pode e que não pode realizar), é como se obstruísse essas válvulas. A pessoa não pode sair com os amigos, não pode ir a uma praia, não pode usar a roupa que deseja, não pode ir ao cinema, não pode entrar em uma academia, não pode dançar, não pode ouvir as músicas que gosta, não pode jogar futebol, não pode escolher um time para torcer... Vá adicionando toda essa "pressão" à panela (afinal todos somos humanos e limitados), que está obstruída. Os desejos e emoções não saem, só se acumulam... O que acontece? Chega a um momento em que estoura (aí é sujeira para todo lado). As pessoas não entendem que quanto maior é o controle e a repressão, maior é o risco. Não é a toa que muitos "bandidos" tiveram uma educação religiosa extremamente rígida. Adiantou? Não preciso nem responder. 

Mas voltando um pouco: uma pessoa que vive nessa censura quase total só tem uma forma de não explodir, que é liberando suas emoções em coisas que são religiosamente aceitáveis. Toda aquela angústia causada pela repressão encontra nesses "cultos" a liberdade para aflorarem. É como se chegasse no pino da panela e o levantasse. Sai ar sob alta pressão. Ali então ela pode canalizar seus desejos e liberar de uma forma "espiritual". Assim, se em casa não pode dançar, ali ela pode dançar, rodar, rolar no chão, pular... Se ela não pode fazer a atividade física que tanto deseja, ali pode correr até à porta, pular... E assim vai. Portanto, se ela não agir assim, o dano será provavelmente maior, pois não é uma espiritualidade sadia. Portanto, apenas reprimir o "reteté" é algo ainda mais equivocado. O que precisa acontecer é voltar às bases. Rever toda essa noção de fé e de espiritualidade cristã que está sendo ensinada ao povo. Só assim poderemos ser espontâneos e ao mesmo tempo, moderados. É equilíbrio sempre!

A forma de expressão é questão pessoal de cada um (e quando exagerado é fruto de uma falta de auto-controle, de respeito e de bom senso) e as manifestações externas, em si, não tem a ver com o Espírito Santo. A motivação que leva a uma manifestação externa (controlada ou não) é que pode ou não ser o Espírito. Porém, como essa manifestação exagerada não me faz lembrar Jesus (a revelação plena da Palavra de Deus a mim), não adoto e não me sinto nem um pouco confortável nesses ambientes. Respeito todos meus queridos irmãozinhos que acham isso compatível com a fé cristã, mas discordo deles, com muito amor e carinho e é por isso que estou expondo algo que para mim é nítido. Obviamente não sou favorável ao outro extremo, em que as pessoas fazem das reuniões entre irmãos um uma liturgia engessada, mecânica, sem espontaneidade. Não foi para isso que fomos chamados. Devemos sim manter uma ordem, mas sem tirar a naturalidade e a liberdade. Devemos ser nós mesmos, apenas com equilíbrio e bom senso.

Obs: Não vamos tirar Atos 2 do contexto, por favor, queridos. Quando é dito que os cristãos lá pareciam "bêbados" era claramente uma forma pejorativa que os incrédulos usavam para denegrir a imagem deles, diante daquele acontecimento (estavam falando em línguas estrangeiras) que ninguém conseguia explicar. Não significa que estavam agindo de forma descontrolada como vemos atualmente em alguns momentos. E mesmo que estivessem, nosso parâmetro continua sendo Cristo e não, esses nossos irmãos queridos. Jesus também era chamado pelos fariseus de "beberrão e amigo de pecadores" e nem por isso ele era um bêbado realmente. Então cuidado ao tirar texto do contexto. 

Conclusão:

O que penso, de forma direta, é o seguinte: O Espírito HABITA em nós (24 h por dia). Somos batizados nEle e com Ele (assunto para outro momento. rsrs). Somos cheios do Espírito, somos ungidos em Cristo. Em alguns momentos a ação do Espírito Santo em nós pode gerar um "afloramento de emoções"? Claro que sim. Porém, veja bem: a ação do Espírito independe de nossas emoções. Sentindo ou não, o Espírito pode agir (e age). Porém quando há uma manifestação intensa, um frenesi, uma euforia grande (e o "reteté" é um exemplo) SEMPRE será uma manifestação da emoção humana, que PODE OU NÃO ser fruto de uma ação divina, entende? Essa motivação é que não cabe a mim julgar.
O que analisei no texto foi a FORMA de manifestação, que em 100% das vezes (isso mesmo) é derivada de nossas emoções, que claro, podem ter uma motivação espiritual genuína. O problema é apenas isso: quando há exagero nessa forma de expressão (não importa se a motivação é genuinamente do Espírito ou se é "carnal"), traz transtornos e escândalos. Não é a toa que Paulo instruía tanto quanto à ordem e decência. Se fosse impossível controlar as emoções mesmo quando é uma manifestação divina ("o espírito é sujeito ao profeta", como dizia o apóstolo, certo?), ele não ensinaria a manter a ordem, a decência, a postura... Ou ele estava completamente errado? Aí é escolha de cada um como vai compreender esse conflito.


Alguns alegam: "você diz isso pois nunca foi tocado pelo Espírito Santo, pois se tivesse sido, não aguentaria". Irmão (ã), não seria mais honesto, mais humilde, menos arrogante, menos prepotente e mais respeitoso assumir: "Pode até ser então uma fraqueza minha, pois eu não aguento e começo a agir de forma incontrolável"? Não é porque alguém não se controla, que esse alguém tem base para julgar que todos os que se controlam não receberam esse "poder todo". Por favor, amados. Desde quando nós somos o parâmetro para julgarmos o nosso próximo? Sem contar aqueles que afirmam: "As coisas espirituais só se discerne pelo Espírito", colocando assim quem discorda deles como "carnais". Esse argumento é tão ilógico, afinal eu poderia usar essa mesma argumentação, só que para afirmar que eu é que estou discernindo o Espírito e quem discorda de mim é que está agindo pela carne". E aí? Vai ficar opinião contra opinião! Por isso nosso critério para avaliar isso tudo não pode ser assim, raso. E foi por isso que decidi fazer essa reflexão.
 

(Por: Wesley Câmara)
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